sexta-feira, 13 de dezembro de 2013


Magritte foi meu preferido desde sempre, desde a primeira vez em que me deparei com o beijo velado e com as corujas em forma de folha (ou folhas com um quê de coruja?). O que me encanta nele é o surrealismo quase oculto, a forma como ele consegue sutilizar o absolutamente absurdo. Paisagens noturnas com céus diurnos, extravagâncias nas proporções. Mas nada me toca mais quando ele insiste em pintar sobre as ausências. Os próprios amantes são um exemplo disso. "Isso não é um cachimbo", que mais pode ser? E esse que coloquei, "Not To Be Reproduced" encabeça a lista dos preferidos, das coisas que eu iria comprar se tivesse uns milhões de dólares. 
Na minha visão o inesperado reflexo representa o nada que às vezes habita em nós. Se me permitem uma confissão besta, na minha cabeça esse quadro se chama "nothing to show"e o livro ali é o do desassossego, marcado na página em que Pessoa define o que é o tédio.
Hopper além de ser um nome legal pra caramba é um cara que me tira o sono. Já revirei as profundezas da internet atrás de qualquer pintura dele que esboçasse ausência de solidão. Mas não, não há esperança em Hopper. O que eu acho mesmo é que os quadros dele em que existem mais de uma pessoa expressam mais solidão, inclusive, dos que em que esta é menos velada. A apatia e a indiferença, a presença de corpos coexistindo, mas quase nunca ou sempre nunca interagindo conforme o esperado dizem mais sobre a tal solidão do que a ausência completa do outro. Esse que coloquei aqui é o que mais gosto dele, "Conference At Night", justamente por ser o mais próximo que consegui ver dele sobre a não presença única da solidão. É o que, embora as caras apáticas, mais se aproxima de um diálogo, de uma troca de qualquer coisa.
"La muerte tocando guitarra" não diz nada demais sobre Botero. Alguém mais desapercebido poderia até contestar que essa fosse mesmo uma obra dele, mas isso posso afirmar que é, com certeza, porque me deparei com esse quadro no Museu Botero, em Bogotá. Ele ficava na sala que entrei logo após as esculturas - todas, definitivamente impecáveis. Olhei pra ele de relance, mas  fui obrigada, logo depois, a ficar alguns minutos observando. A morte retratada no quadro era a única figura do museu que sorria. Em meio a todos aquelas rechonchudas reproduções da vida, nenhuma esboçava um traço sequer de sorriso e lá estava a morte, com um violão na mão, um sorriso arreganhado e uma leve estupidez estampada. Me obriguei a dar mais uma passada rápida em algumas galerias pra comprovar minha teoria - e estava absurdamente certa. Nenhum dos inúmeros personagens expostos ali sorria. Só a morte tocando violão. Só ela. Posando ali do lado de Jesus Cristo em sua forma 'Boteresca'. Diferentemente de Hopper, há alguma esperança em Botero.

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