quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Bauru me lembra qualquer coisa como uma beleza insustentável. Qualquer coisa como algo que foi programado e idealizado pra ser absolutamente impecável, digno, limpo, são; mas que com o tempo foi se degradando, se tornando uma outra coisa. Um sonho falido. Uma imensidão de escombros e ruínas que ainda guarda, pelas esquinas, detalhes efêmeros, fugazes, pintados de verde-água. De longe, só mais um borrão, algo violado. Labirinto cheio de ladeiras, trilhos, descaminhos, descaminhados. 
Mas se lhe é permitido olhar suficientemente de perto, atento aos pequenos detalhes, às implicitudes, às incoerências: ainda há qualquer coisa que recorda o sonho. Ainda há inúmeros arabescos dessincronizados, que trazem a ideia da pompa toda que isso aqui deve ter tido um dia.
Bauru é uma cidade fantasma, uma cidade que é reminiscência de algo que deveria ter sido - mas não foi. É a flor levada pela correnteza no exato momento em que deixa de ser flor - talvez por não ter mais raízes, talvez por ter descoberto ser, enfim, mais correnteza que qualquer outra coisa.
Nos dias quentes, percebe-se claramente o cheiro de nostalgia que exala da cidade inteira. Parece tudo um baile por começar, o mocinho vestido de azul marinho que tira a moça sardenta pra dançar, em meio à canção torpe interpretada por Ellen de Lima, mas que antes de qualquer coisa é atingido por algo imperdoável. E se finda o baile. E se finda o sonho.
Há qualquer grandiosidade no ato de ainda tentar ser o que já não se é mais. Os pequenos cantinhos desse labirinto em forma de cidade cortada ao meio por uma linha férrea dizem mais sobre esperança do que qualquer poema de Drummond (sim, até mesmo mais que o Consolo Na Praia).



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