sábado, 30 de novembro de 2013

Começo esse post com duas sentenças que andaram martelando na minha cabeça nos últimos dias. A primeira, um comentário de um completo desconhecido num vídeo que eu fiz em 2011 sobre a cidade onde eu morava e que postei no facebook. A segunda, uma parte de um poema do Manuel de Barros, que vi num documentário lindo, maravilhoso e altamente recomendável, que você assiste aqui... Enfim: 
"Procuramos tanto por tantas coisas que esquecemos que a coisa mais importante da vida, ganhamos a cada dia, um dia após o outro. Devemos procurar na simplicidade de nossos dias a grandeza e beleza do ser e estar."  
"Meu quintal é maior do que o mundo."
Esse começo de ano foi muito desafiador pra mim. Mudanças extremas que me fizeram sentir mil coisas antagônicas de uma só vez: o medo de não passar no vestibular, a alegria de ter sido aprovada; a sensação de liberdade de ir morar sozinha, seguida de sentir o meu próprio peso nas minhas próprias costas, me tornando completamente responsável por todos os meus atos e noites sem dormir; a vontade de ir embora e o perceber que tudo aquilo que eu queria não era exatamente o que eu precisava.
Mas acho que nada me chocou mais do que voltar pra "cidade grande". Ver as pessoas rindo quando eu comento que meu namorado vai e volta pra faculdade de barco todo dia é o tipo de coisa que me faz entrar numa completa crise existencial. Essa coisa de ter que pegar ônibus pra qualquer coisa e  de conseguir resolver todos os meus problemas no shopping me dão um profundo cansaço.
Sempre tive vontade de contar pra todo mundo que a vida em tabatinga é muito melhor. Que o tempo passa devagar e que você não tem que chegar rápido em lugar nenhum, porque tudo é perto. Que os meus amigos moravam no quintal e meu namorado na esquina. Sempre tive vontade de dizer que pela ausência de cinemas a gente ia ver o pôr-do-sol na beira do rio e falar sobre estrelas; que pela ausência de shoppings centers a gente é obrigado a ficar rodando horas pelas lojinhas da cidade procurando um lenço; que pela escassez de 'barzinhos', shows e baladas a gente foge de casa pra ver chuvas de meteoros, escutando músicas sobre o fim do mundo.
Sempre quis contar pro mundo inteiro que na falta de "coisas pra fazer" você resolve se tornar próximo das pessoas e as coisas divertidas vão acontecendo. Que "apagão" na verdade é um convite pra você sair e ver vaga-lumes e descobrir que quando as luzes "apagam", as estrelas "acendem". E que tempestades são o melhor momento pra você se jogar na lama e brincar de jiu-jitsu. 
Sempre quis contar pra todo mundo que o meu melhor amigo sempre me ligava pra dizer que o pôr-do-sol tava lindo. E que a gente ficava falando sobre Deus no Caminho das Bruxas, depois de ter rodado a cidade inteira dando tchau pra desconhecidos.
Talvez tudo isso seja só nostalgia e Tabatinga seja mesmo um fim de mundo, como muitos dizem por aí. Talvez seja só minha vontade de voltar pro tempo em que tudo era simples. Talvez (e provavelmente seja isso) é tudo do que quero me lembrar. Talvez isso justifique porque quando Manuel de Barros diz "que o quintal onde a gente brincou é maior do que a cidade" me vem uma vontade gigantesca de deixar tudo aqui e voltar pro Amazonas, esse lugar que nunca foi meu, mas sempre vai ser.
P.s.: Escrever sobre tudo isso e pensar que sair um pouco dessa coisa frenética de internet rápidaquebaixamilfilmes, de andar de carro praláepracá, sempre preocupado com alguma coisa cósmicainexplicável que pode acontecer, faz muito bem. Estar em um lugar que te dá paz, que te deixa tranquilo, onde sobra tempo e espaço te faz começar a ver poesia nas coisas, te faz perceber que há mais coisas entre o simpático humuhumunukunukuapuaa e o Eyjafjallajökull do que supõe, inclusive, a nossa poesia.
- Publicado anteriormente aqui

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