sábado, 28 de dezembro de 2013

Hoje entrou uma menina na livraria me perguntando sobre John Green. Isso é o que noventa e nove vírgula nove por cento das meninas fazem quando entram lá. Às vezes ficam indecisas entre Sparks, Green e o novo livro da Demi e é só isso. O que aconteceu é que, diferentemente dos noventa e nove vírgula nove por cento das meninas ela não se deteve ali. Escorregou pra estante de literatura internacional e ficou ali por uns bons 30 minutos. Fui perguntar se ela queria alguma ajuda e a gente acabou engatando um papo frenético. Trocamos um monte de referências, compartilhamos um monte de coisa em comum. E o mais legal é que indiquei 'Admirável Mundo Novo' e ela levou. Junto, é claro, com o 'A Culpa É das Estrelas'.
Dia desses me peguei pensando sobre as amizades. É que, de um bom tempo pra cá, a minha capacidade de fazer novos Amigos - assim, com maiúscula - simplesmente desapareceu. Compartilhei dessa opinião com algumas pessoas que concordaram veementemente com a minha explanação. Consegui explicar isso de duas maneiras básicas. A primeira é mais óbvia e provavelmente seja a verdadeira razão de tudo e explica o fato da minha ausência de novas amizades porque, por algum motivo, eu tenha ficado mais chata, menos sociável. A segunda razão explica tal fenômeno porque, de acordo com o tempo e com o aprofundamento das antigas amizades, as novas sempre pareçam de certa forma supérfluas
Com o tempo, minhas verdadeiras amizades - as que sobreviveram ao tempo e à distância - foram se tornando antigas. Com o passar dos anos, as ações foram se tornando mais previsíveis, os gostos ficando mais claros; os silêncios passam mais desapercebidos, as palavras ditas às pressas, às vezes nem mesmo precisam ser compreendidas - são meras repetições. Nem precisamos mais das conversas diárias ou semanais. Somos amigos porque somos amigos há tanto tempo e porque nos queremos bem, se possível e fácil fosse, até mesmo perto, até mesmo agora. São amizades consolidadas, calcadas na realidade, testadas em mil diferentes modos. Já quase não exigem nenhuma cena. Quase nenhum segredo é terrível demais pra quem já se conhece tão bem. Quase nenhuma falha é grande demais pra algo que existe, forte e belo, há tanto tempo.
Plantar algo novo num terreno encharcado de raízes exige muito - é preciso carinho, é preciso cuidado, tudo tem que ser feito milimetricamente. Talvez, com o tempo, conforme o fardo vá se tornando mais pesado, a gente tenha que ser cada vez mais seletivo com o que vai resolver carregar por aí; talvez então, só entre o que for mesmo necessário, o que for absurdamente lindo. 
E por onde andará o lindo? 
Imagino que eu e a menina que entrou hoje na livraria poderíamos ser mesmo boas amigas. Afinal, eu também li John Green. E por que não? O que é que falta? Por que é que ela foi embora pra, provavelmente nunca mais?
Mas apesar de tudo gosto de acreditar que sempre há de ter alguém que vai distrair nosso silêncio - nossos abismos. Mesmo que seja em algum lugar perdido. Mesmo que você só possa sentir isso pelo telefone, numa ligação bêbada que dura quatro horas. Sempre vai existir alguém pra quem você quer pedir um abraço, uma palavra qualquer.
Encontrar tudo isso é mesmo mais difícil quando você se muda pra uma cidade em que é, basicamente, um alienígena e não conhece nada nem ninguém. Mas também gosto de acreditar que se você não tiver medo do novo, o novo não vai ter medo de você.
(...) e nem vou pensar se me chamar pra fugir contigo outra vez.
Quanto a mim, estou limpando meus terrenos. É que quando o novo chegar, tudo precisa estar pronto. Porque, afinal, vocês sabem bem, repito isso toda hora: eu tenho muita pressa...

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